Politecnia de Frankenstein

Em um mundo caótico e contraditório, não seria surpresa pensar que um ser do mundo, fruto dos homens e por eles reinventado seja interpretado como um monstro. No imaginário social pensar em um ser humano ressurgido pode ser interpretado como algo divino ou profano, por puro e absoluto maniqueísmo. Pode-se assumir caráter religioso e dar tal poder a quem assumiu com o corpo a punição do mundo. Ou pode-se impetuosamente adentrar a ficção para propor uma analogia.

Nascemos humanos e aos poucos temos nossa humanidade exaurida por uma força obscura e silenciosa que nos desumaniza. Uma lógica que de tão poderosa nos aliena. Assim, pouco a pouco nossa a humanidade morre e nos tornamos objetos e não mais humanos. E se, em um ato opositor, furtássemos esse homem objeto para reinventá-lo integrando o ser e estar no mundo com partes de suas experiências formativas que vão sendo costuradas e vão se entrelaçando e constituindo uma nova criatura, partes que são advindas de outros humanos e partes outras são tecnologias que o potencializam e estendem o "corpus".

Tal criatura seria assustadora se considerarmos nosso comodismo com semelhante rejeição ao que é diferente e desconhecido. Qualquer ameaça a ordem vigente é aterrorizante. Também não é difícil rotular e caluniar seu idealizador. Alegando que sua criação fere a ordem, que seus ideais são devaneios e que sua criatura é mera utopia.

Negar que o ser humano se modifica a ponto de se reinventar sob perspectiva integral é uma arma para manutenção de uma lógica que escraviza mentes e imobiliza corpos.